Desempregados ganham até R$ 500 para segurar placas para candidatos

MONIQUE OLIVEIRA
da Folha Online

Eles seguram bandeiras, estendem faixas, entregam santinhos e trabalham de segunda a segunda. O salário chega a R$ 500 por mês. Depois de proibida a distribuição de brindes, camisetas e outdoors, os “operários de campanhas” –os chamados homens-placa– são a principal alternativa dos comitês para “alavancar” candidaturas em São Paulo. O dinheiro, apesar de sazonal, ajuda no orçamento de quem está desempregado.

Para a estudante Núbia Aparecida, 18, o emprego veio na “hora certa”. Ela passa o dia na avenida Paulista segurando a bandeira do candidato a deputado federal Delfim Netto (PMDB). “Tem que trocar de mão toda hora porque cansa bastante”, diz.

Núbia recebe R$ 400 e já trabalhou com telemarketing, mas estava desempregada. “Tenho que aproveitar esses dois meses.”

Eraldo Antônio, militava para o PT, mas faz bico para candidato a deputado federal do PSDB. Já o técnico em manutenção, Eraldo Antônio, 52, é funcionário do comitê do candidato a deputado estadual Walter Feldman (PSDB) e ganha R$ 350 pelo serviço. “Aqui, não tem critérios, basta ser burro. Muitas vezes você é objeto de manipulação”.

Eraldo é de outra geração. Na década de 80, militava para o PT e PC do B. Agora, ele trabalha pela primeira vez em troca de dinheiro em campanhas. “Como estou sem serviço, seguro a bandeira do PSDB.”

Adriana Pereira, 26, ao contrário de Eraldo, “acha ótimo” trabalhar para o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. Ela tem uma folga na semana, e, trazendo o almoço de casa, segundo ela, “dá pra tirar uns R$ 500”.

Adriana não via a hora de arrumar um “bico”. “Estava difícil. Cheguei até a beber água de arroz para não passar fome”. Agora, ela ajuda pessoas que estão na mesma situação. “Conheci uma menina na rua, arrumei um canto lá em casa, e ela também trabalha pro Alckmin no Farol.”

O casal Maria Aparecida dos Santos, 25, e Paulo Rogério Jesus, 20, desempregados, trabalham para o comitê do candidato a deputado estadual, Juan Ouchana (PSB). Ela entrega santinhos no farol e ele segura faixa do candidato na Avenida Brás Leme, em Santana. “Não pode amarrar a placa, se não leva multa”, diz Paulo. Pelo serviço, cada um recebe R$ 250 por seis horas de trabalho. “Já ajuda. Se não fosse isso, tava vendendo cocaína no morro”, afirma Maria.

Maria Gonçalves, 54, desempregada, distribui panfletos da candidata a deputada federal pelo PP, Adelina Alcantâra Machado na zona leste. Ela teve câncer há cinco anos e passou por uma cirurgia recentemente. “Eu usava bolsa coletora e tudo, agora, com os meus filhos todos casados, tenho que me virar.” Maria trabalha de segunda a segunda por R$ 300. “Ajuda um pouco”, diz.

O também desempregado Anderson da Costa, 20, entrega santinhos do candidato a deputado estadual, Celino Cardoso (PSDB). Ele diz que o trabalho é “difícil”. “A gente agradece porque eles estão dando essa oportunidade, mas não sei se vou votar, não sei o pensamento deles”. Para Anderson, alguns não entendem o trabalho. “É complicado porque as pessoas vêem com preconceito, mas eu não estou aqui representando o candidato, eu represento o trabalhador.”

Gastos

A assessoria de Walter Feldman informou que 40% dos recursos com a campanha vai para a folha de pagamento. Com 440 pessoas contratadas a R$ 350 de salário por mês, o comitê tem um custo de R$ 200 mil com empregados, sendo que R$ 50 mil vai para recolhimento do INSS.

Vânia Correia, assessora do deputado Celino, diz que o candidato tem cerca de 300 funcionários, com INSS recolhido. “É um contrato de trabalho comum”, afirma. A idéia, segundo a assessora, é gerar ainda mais empregos. “Até o fim da eleição podemos contratar mais 50 pessoas”. O grupo tem contrato de dois meses com um salário de R$ 350.

A responsável pelo comitê da candidata Adelina na zona leste, Janete Pedreira, coordena 16 funcionários com um custo de R$ 4.800. “As pessoas são simples, mas eu percebo muito potencial, independente da classe.” Segundo ela, a aceitação da candidata na periferia tem sido grande.

Já o candidato a deputado estadual Ouchana afirma “que tudo está sendo feito com registro e todos os que usam a camiseta, estão cadastrados”. Ouchana pretende contratar mais gente até o dia da eleição.

Com um gasto máximo previsto para campanha e declaração ao TRE-SP, de R$ 1 milhão, ele paga R$ 250 por mês para os empregados. O candidato explica a procedência dos recursos. “O dinheiro vem de amigos e parentes.”

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